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Mesolítico


Os últimos caçadores recoletores 

Os limites superiores do Estuário do Tejo que, na época, se estendiam até à área de Salvaterra de Magos, foram o cenário em que se prosperaram algumas das últimas comunidades de caçadores recoletores (também conhecidos como mariscadores ou mesolíticos), na fachada atlântica europeia, que se extinguiram, nesta região. há cerca de 7000 anos ou um pouco menos.

Note-se que, um pouco por todo o mundo, no pós-glacial, os caçadores-recoletores recorreram sistematicamente a ambientes de grande biodiversidade, mais ou menos litorâneos (nomeadamente estuários, golfos, lagoas...) e baseando a sua economia, em grande escala, na apanha de marisco (mas não só).

Esta escolha deve-se, em parte, ao facto de, nos milénios anteriores, a partir do final da última glaciação (há cerca de 10000 anos), devido às profundas alterações climáticas, as paisagens do interior  terem ficado cobertas por densas florestas e matagais.

Os últimos caçadores recoletores viviam em tendas ou abrigos, e estavam, segundo parece, experimentando um processo de sedentarização gradual. 

Há cerca de 7000 anos, ou um pouco antes, por influências recebidas (direta ou indiretamente) do Mediterrâneo oriental (onde se procedeu, pela primeira vez, à domesticação de plantas e animais), essas comunidades entraram em processo de neolitização, isto é, tornaram-se pastores e agricultores, mudando radicalmente a relação Homem-Natureza. 

Na prática, a neolitização foi avançando, abrindo e alargando clareiras,  reduzindo a biodiversidade, em paisagens cada vez mais domesticadas. 

É quase consensual, entre os especialistas, a ideia de que os primeiros grupos neolíticos, no Alentejo Central (nomeadamente no Freixo do Meio), emergiram a partir dos últimos caçadores recoletores do Tejo/Sado.

Para além de muitas semelhanças, no que respeita aos instrumentos de pedra lascada (a cerâmica, a pedra polida e as mós são as principais inovações) é possível encontrar, do domínio do simbólico, sugestivas evidências de continuidade. 

Por exemplo, o concheiro funerário mesolítico da Moita do Sebastião, em Muge (Salvaterra de Magos) é um monumento funerário que incluiu um semicírculo de postes de madeira, o qual, por sua vez, pode ter inspirado as plantas, em ferradura, dos cromeleques alentejanos. Por outro lado, os concheiros (colinas artificiais, formada por conchas, mas também terra e carvões, monumentalizando enterramentos) são, por sua vez, antepassados  das mamoas que, originalmente, cobriam os monumentos funerários megalíticos.






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