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Mesolítico


Os últimos caçadores-recoletores (Mesolítico final),

no nosso território, instalaram-se, há mais de 8000 anos, preferencialmente, em zonas de ecótono, particularmente ricas, em termos de recursos aquáticos; as principais concentrações de vestígios dessa época, encontram-se nos limites superiores dos estuários do Tejo e do Sado, onde a pesca e, sobretudo, o marisqueio, garantiam, a par da caça e da recolecção, a segurança alimentar.

Estes grupos desenvolveram, naturalmente, competências náuticas notáveis, relacionadas com a pesca, mas que, por outro lado, lhes facilitaram a mobilidade e o estabelecimento de redes de relações, consideravelmente amplas, ao longo das costas atlânticas e do mediterrâneo ocidental.

Foi, provavelmente, a dinâmica destas redes, num processo relacionado com a exogamia, que fez chegar, ao nosso território, os genes e as inovações neolíticas (agricultura, pastorícia, pedra polida, cerâmica...) oriundas, em última análise, do mediterrâneo oriental.

Foi um tempo de paz, num ambiente de abundância alimentar, que alguns autores sugerem ter inspirado o paraíso bíblico.

Do ponto de vista da relação com a Natureza, conviviam, sem a alterar, com uma paisagem exuberante e impoluta.

Foi também um tempo que anunciou algumas das transformações que se seguiram: eram sociedades em vias de sedentarização e provavelmente de complexificação social.

Criaram concheiros funerários (montes de terra, carvões e conchas, cobrindo enterramentos) e estruturas semicirculares de postes de madeira, que são os primeiros monumentos construídos, no nosso território, e que, possivelmente, são os antepassados ​​das mamoas e dos cromeleques neolíticos alentejanos.



    Os limites superiores dos estuários do Sado e do Tejo eram áreas privilegiadas do ponto de vista da disponibilidade de recursos naturais: para além dos ecossistemas estuarinos, as comunidades que erigiram os concheiros desfrutavam dos recursos fluviais, imediatamente a montante, e dos recursos marinhos, descendo até à foz dos respetivos rios; os recursos terrestre estavam, por sua vez, disponíveis no Alentejo Central.


Todo o mundo é feito de mudança

Há cerca de 7000 anos, ou um pouco antes, por influências recebidas (direta ou indiretamente) do Mediterrâneo oriental (onde se procedeu, pela primeira vez, à domesticação de plantas e animais), essas comunidades entraram em processo de neolitização, isto é, tornaram-se pastores e agricultores, mudando radicalmente a relação Homem-Natureza. 

Na prática, a neolitização foi avançando, abrindo e alargando clareiras,  reduzindo a biodiversidade, em paisagens cada vez mais domesticadas. 

É quase consensual, entre os especialistas, a ideia de que os primeiros grupos neolíticos, no Alentejo Central (nomeadamente no Freixo do Meio), saíram das últimas comunidades de caçadores recoletores do Tejo/Sado.

Para além de muitas semelhanças, no que respeita aos instrumentos de pedra lascada (a cerâmica, a pedra polida e as mós são as principais inovações) é possível encontrar, do domínio do simbólico, sugestivas evidências de continuidade. 



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